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Petrobras

3R capta R$ 820 mi no follow-on mais rápido da história e triplica negócio

Após processo de revitalização, poços que empresa já possui deverão produzir 35 mil barris ao dia - mais do que a PetroRio hoje em dia

Campo da 3R, adquirido da Petrobras: no Pólo Macau, produção aumentou 28% após as primeiras melhorias para reativação de poços (3R/Divulgação)
Campo da 3R, adquirido da Petrobras: no Pólo Macau, produção aumentou 28% após as primeiras melhorias para reativação de poços (3R/Divulgação)
GV

28 de abril de 2021 às 14:35

A 3R Petroleum, companhia que explora campos maduros de petróleo e gás, acabou de concluir sua primeira oferta pública subsequente após a inicial (IPO) do ano passado. Levantou agora R$ 823 milhões, com a ação precificada em R$ 36. Com a liquidação da oferta, o valor de bolsa da empresa vai se aproximar de R$ 5 bilhões.

Em cinco meses, a novata captou R$ 1,5 bilhão e fez o follow-on com menor intervalo desde o IPO da história do mercado de capitais brasileiro. A 3R listou ações na B3 no início de novembro, com o papel avaliado em R$ 21. Na ocasião, esse preço ficou abaixo do intervalo sugerido. Mas, nessa segunda operação, o papel já está bem acima do teto proposto em novembro — a ação teve alta de mais de 70% desde que chegou ao pregão.

Os recursos vão ajudar a controlar a alavancagem do negócio, já que seguir com aquisições para crescer é o projeto da companhia, com foco total, nesse momento, nos ativos da Petrobras. E haja apetite. Com as aquisições feitas durante o processo de preparo para a oferta inicial, e que ainda não foram totalmente concluídas, mais as compras anunciadas após a listagem — os campos de Recôncavo (BA) e Peroá (ES) — a capacidade de produção da 3R vai passar dos atuais 5,5 mil barris de óleo equivalente (boe) por dia para cerca de 16 mil, conforme dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Ou seja, a companhia mal chegou à B3 e já triplicou de tamanho.

Apenas para comparação, tão logo assumir os ativos, a 3R terá um tamanho equivalente a 50% da PetroRio atual, que também é dedicada à exploração de campos maduros e está avaliada hoje em R$ 15 bilhões na bolsa.

“Os volumes registrados hoje pelos poços da empresa não consideram as melhorias e ganhos de eficiência que implementamos”, destaca Rodrigo Pizarro, diretor financeiro, em longa entrevista exclusiva ao EXAME IN. No Pólo de Macau, por exemplo, a empresa já conseguiu um aumento de 28% na produtividade, isso apenas após a primeira fase do processo de revitalização.

Depois que passar por todas as etapas de melhoria, os poços todos devem alcançar 35 mil barris por dia, conforme as certificações externas de empresas especializadas. No início da operação, a 3R atuava mais em campos on shore (na terra) e off shore (no mar) de águas rasas. Conforme a Petrobras evoluiu nos processos de venda mar a dentro, a empresa também  se preparou e assim pretende continuar.

Quem chegou em março para compor o quadro de petroleiros experientes que atuam na empresa é Hugo Repsold, executivo com 37 anos de experiência na Petrobras,  onde ocupou as posições de diretor de desenvolvimento da produção & tecnologia, de assuntos corporativos, de gás e energia, além de diversas gerências em exploração, produção, estratégia e mais gás e energia.

O time de largada da 3R causou buburinho no mercado porque o presidente do conselho de administração é Paulo Thiago Mendonça, filho de Paulo Mendonça, que foi executivo importante da antiga OGX e braço-direito de Eike Batista por um breve período, nos tempos de otimismo do mercado com o empresário carioca. Mas a lista de nomes experientes no setor, aos poucos, têm diluído os temores.

Ricardo Savini é o presidente, Pedro Grijalba é diretor operacional e Jorge Ruben Lorenzon é diretor de desenvolvimento. Todos executivos com longa carreira na Petrobras e até mesmo outras petroleiras na América Latina.

Como a Petrobras foi monopolista durante muitos anos, a exploração de campos maduros é algo relativamente novo no Brasil, apesar de ser uma indústria bem consolidada no mercado internacional.

De preferência, as aquisições que a 3R mira têm reservas adicionais provadas (1P). A companhia tem um total hoje de 125 milhões de boe em reserva provada — com avaliação de duas certificadoras, a Degolyer & MacNaughton’s e a Gaffney Cline. Se somadas as prováveis (2P), o total sobe para 174 milhões de boe. “Todos os números refletem apenas a participação efetiva da 3R nos campos”, frisa Pizarro. Ambas são consideradas economicamente viáveis, dentro dos padrões de operação da empresa.

Os 3Rs

Quando assume um campo, a 3R segue um rito de três etapas. É esse trabalho, inclusive, que dá nome à companhia: “Redesenvolver, Revitalizar e Repensar”.

A primeira dessas etapas é a reativação de poços inoperantes; a segunda é a intervenção para aproveitar reservas que não estavam em produção; e a terceira é a perfuração dentro de um mesmo cluster, entre dois furos já existentes — onde quase sempre há reserva disponível e não aproveitada.

Esses movimentos seguem em paralelo a investimentos em automação e ao incremento no processo de tratamento de água, o que faz a produção de óleo e gás desengargalar. Diferentemente da Petrobras, que só faz a captação da água no próprio cluster, a 3R adiciona o tratamento no local para poder reutilizá-la na repressurização de poços e assim ampliar a produção. “São investimentos marginais, muitas vezes, como tanques de decantação, que permitem manter a produção em poços de óleo com alto teor de água, tornando-os economicamente viáveis por muitos anos”, conta Pizarro.

Dívida

Após a oferta pública concluída na quarta-feira da semana passada, a 3R terá uma dívida líquida da ordem de US$ 230 milhões. Os seis ativos que a companhia comprou no processo de desinvestimento da Petrobras totalizam um investimento de US$ 599 milhões. Desse total, ainda restam US$ 383 milhões a pagar — sendo que US$ 26 milhões em até 30 meses após o fechamento das transações e US$ 64 milhões que dependem do atendimento de metas de produção.

Esse total futuro de US$ 90 milhões já contará com a geração de caixa dos campos de posse da 3R para pagamento, pois têm prazo estendido depois da transferência de propriedade.

Custo e rentabilidade

Pizarro destaca que os campos atuais são capazes de ser rentáveis mesmo com o barril de petróleo a US$ 20 — atualmente a cotação do brent têm oscilado entre US$ 60 e US$ 65. Em 2022, considerando a extração das reservas provadas, o custo da empresa será da ordem de US$ 10 por barril.

Mais uma vez, apenas como comparação, o lifting cost (o nome técnico que se dá a esse custo) da PetroRio terminou 2020 pouco abaixo de US$ 15, com uma produção diária da ordem de 30 mil barris — o custo desses mesmos poços hoje geridos pela empresa chegou a superar US$ 40, em 2018.

Pizarro não antecipa movimentos, mas admite — é, claro! — que a 3R está nesse momento participando da disputa por outros ativos da Petrobras. A ideia é que, sempre que necessário, a companhia possa recorrer ao mercado, de forma a poder financiar metade dos pagamentos com capital e metade com dívida. Captar na bolsa para complementar a geração de caixa em aquisições, inclusive, contribui para ampliar a eficiência na mensuração do valor da própria companhia. "No IPO, éramos uma empresa de R$ 2,3 bilhões, com 30% das ações em circulação. Agora, já somos um negócio de R$ 5 bilhões, com 40% dos papéis sendo negociados na bolsa. E assim vamos evoluir. Podemos, a cada momento, atrair novos e maiores fundos."

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